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quinta-feira, 31 de março de 2011

BIS IN IDEM DIÁRIO- DIA 1

Não fossem mil anos de horror...
Imaginem se as experiências de dor e sofrimento pudessem ser compartilhadas por toda a humanidade ao mesmo tempo. Imaginem se tudo o que alguém já passou e viveu pudesse ser transportado para a sua alma, mas não como algo externo ou como uma solidariedade a alguém que sofreu. Também não digo como algo que compreendemos e repulsamos, nem como um sentimento que, por tanto amor a outrem, sofremos por vê-la sofrer. Não. Não estou falando disso...mas imaginando uma mágica, como que por um prodígio divino, o sofrimento experimentado por um ser humano, em qualquer momento da história, fosse inserido na memória orgânica de todos...o que aconteceria?
Muita revolta e ódio, sem dúvida, seriam compartilhados? Vinganças se tornariam mais repulsivas e ganhariam vultos gigantescos, ou o contrário aconteceria? Será que nós aprenderíamos com a dor e tudo mudaria? Será que o sofrimento com prisões e mutilações, torturas e assassinatos nos tornaria mais conscientes e brandos? Tornaríamos a cometer o que certamente nos traria mais dor? Ousaríamos ditaduras em detrimento dos demais se as conseqüências nefastas do arbítrio recaíssem em nossa vida, necessariamente?
Não tenho certeza... não faço a menor idéia...na verdade, trata-se apenas de um pensamento sedicioso, mais um, que me ocorreu ao percorrer as tão previsíveis páginas dos jornais de hoje. Tanta violência e atraso, mergulhadas em ridículas diminutas conquistas. Mas, e se todos tivessem, como se na memória pessoal, a marca da dor de socos e tapas diante de prisões, ainda que legais? E se, a negação de direitos fundamentais pretéritas estivem vivas na lembrança daqueles que, hoje, pervertem os princípios mais basilares do direito penal. Bagatelas e obviedades como direito à vida, integridade corporal, devido processo legal, de defesa, da individualização da pena,tudo isso, seria imperioso e inegável...
Esse é o dia 1, o que me veio essa reflexão...vou pensar mais sobre isso e em como o bis in idem, a repetição do mesmo, imputações e criminalizações duplicadas, covardias e arbítrios têm se manifestado entre nós...

terça-feira, 22 de março de 2011

aulas na quarta

Queridos alunos, nao havera aula amanha, de penal 1 na candido...infelizmente nao consegui substituto e estarei em curitiba...
Nos vemos na quinta...
Abracos

sexta-feira, 18 de março de 2011

MUITO ALÉM

Muito além da guerra: arte;
muito além dos títulos: simplicidade;
muito além da Lei: Justiça;
muito além da Justiça: perdão;

Muito além da beleza: espírito;
muito além dos fatos: interpretações;
muito além das interpretações: fé;

Muito além da morte: esperança;
muito além da riqueza: espiritualidade;
muito além do crime: ninguém;
muito além dos preconceitos: humildade;

Muito além do inferno: caridade;
muito além da verdade: tolerância;
muito além da ética: amor;
muito além do amor: Deus;
muito além de Deus: nada...

domingo, 13 de março de 2011

A arte de ressuscitar...

Com a recente redescoberta do Cais do Valongo e do cemitério dos pretos novos, ambos na região da gamboa e portuária do Rio de Janeiro, a questão da escravidão ressurgiu fortemente.Imaginem só, a poucos anos atrás, em termos históricos humanos, negros eram transportados, comprados, surrados e humilhados em pleno mercado portuário. Esse último achado, o Cais do Valongo, teria sido o maior porto de chegada de infelizes no Brasil: 600 mil...e os que iam morrendo pelo caminho ou já na cidade, enterrados no cemitério dos pretos novos, ali bem pertinho...mas e se um desses negrinhos rebeldes escapa e vaga pelas ruas da cidade ainda hoje? Centenas de anos nos separam dos antigos rituais de humilhação pública daqueles que nem eram considerados humanos...mas e hoje? hoje eu vi um menino preto, cabeçudo e esmirrado correndo pelo largo da Carioca. Em cima do seu ombro esquálido ia carregando toneladas de sofrimentos, exclusão e negações. Com ele vão todas as surras, todas as histórias de privaçoes de sua mãe e seus muitos irmãos.Levava consigo também o álcool de seu pai violento, a insalubridade do barraco onde dorme,o trapo no corpo, a inexistência do chuveiro e o choro famélico de mais 10 irmãos...levava ainda uma infinidade de desejos justos, mas que nunca se realizarão...Ele é rápido e terá que aprender a arte de ressuscitar muitas vezes na sua vida, pois será assassinado em cada uma de suas mais mínimas esperanças...Mas corre, não se rende e corre...corre e apanha uma bolsa com nome de escritor de luxo, aquele mesmo, que quase ninguém leu, aquele, autor de "Os miseráveis"... bela ironia... o que vale mais? o menino ou a bolsa? o Que é maior, o menino ou o celular? Dez anos de idade ou tecnologia 3g? Depende: se a bolsa não for falsa e custar mais do que cinco mil reais será ela, pois essa quantia é muito maior do que a que o Estado resolveu investir nesse menino a vida toda, exceto, talvez, se ao invés de morto ele for preso, quando então restará comprovada e sentenciada a sua verdadeira natureza :fardo fiscal inútil, oriundo de uma delinquência existencial e indesejável, típica daqueles que ja nascem culpados muito antes de pensarem em cometer ou entender o crime....aliás, o crime é um mero adereço à sua existência....e olhe que o Estado já o havia tenatdo matar bem antes, com o controle de natalidade...dribla menino, olé na intolerância e chuta a bola na baliza certa do gol: entre duas lápides do cemitério dos pretos novos...quem sabe um dia vira seleção ?

sexta-feira, 11 de março de 2011

ESTANDARTE DE NOJO

Eu escrevo para os destemidos epígonos
de uma noite sem trevas,
para os olhos sem audição
e para todo o tipo de paralíticos,
mas todos são hipócritas políticos,
homens de carne podre, suicídios em latrinas
na malfadada América Latina;

Eu escrevo nos muros dos mouros,
nas sinagogas da Jerusalém árabe
onde o sol não queima a fé
em nada;

Eu escrevo para os corações dos Reis
para as coroas do povo
e para o povo sem coroas:
eu escrevo para o apocalipse de fel,
para a amarga revolução de pó
nas infinitas evoluções do meu
estandarte de nojo!