Total de visualizações de página

domingo, 13 de março de 2011

A arte de ressuscitar...

Com a recente redescoberta do Cais do Valongo e do cemitério dos pretos novos, ambos na região da gamboa e portuária do Rio de Janeiro, a questão da escravidão ressurgiu fortemente.Imaginem só, a poucos anos atrás, em termos históricos humanos, negros eram transportados, comprados, surrados e humilhados em pleno mercado portuário. Esse último achado, o Cais do Valongo, teria sido o maior porto de chegada de infelizes no Brasil: 600 mil...e os que iam morrendo pelo caminho ou já na cidade, enterrados no cemitério dos pretos novos, ali bem pertinho...mas e se um desses negrinhos rebeldes escapa e vaga pelas ruas da cidade ainda hoje? Centenas de anos nos separam dos antigos rituais de humilhação pública daqueles que nem eram considerados humanos...mas e hoje? hoje eu vi um menino preto, cabeçudo e esmirrado correndo pelo largo da Carioca. Em cima do seu ombro esquálido ia carregando toneladas de sofrimentos, exclusão e negações. Com ele vão todas as surras, todas as histórias de privaçoes de sua mãe e seus muitos irmãos.Levava consigo também o álcool de seu pai violento, a insalubridade do barraco onde dorme,o trapo no corpo, a inexistência do chuveiro e o choro famélico de mais 10 irmãos...levava ainda uma infinidade de desejos justos, mas que nunca se realizarão...Ele é rápido e terá que aprender a arte de ressuscitar muitas vezes na sua vida, pois será assassinado em cada uma de suas mais mínimas esperanças...Mas corre, não se rende e corre...corre e apanha uma bolsa com nome de escritor de luxo, aquele mesmo, que quase ninguém leu, aquele, autor de "Os miseráveis"... bela ironia... o que vale mais? o menino ou a bolsa? o Que é maior, o menino ou o celular? Dez anos de idade ou tecnologia 3g? Depende: se a bolsa não for falsa e custar mais do que cinco mil reais será ela, pois essa quantia é muito maior do que a que o Estado resolveu investir nesse menino a vida toda, exceto, talvez, se ao invés de morto ele for preso, quando então restará comprovada e sentenciada a sua verdadeira natureza :fardo fiscal inútil, oriundo de uma delinquência existencial e indesejável, típica daqueles que ja nascem culpados muito antes de pensarem em cometer ou entender o crime....aliás, o crime é um mero adereço à sua existência....e olhe que o Estado já o havia tenatdo matar bem antes, com o controle de natalidade...dribla menino, olé na intolerância e chuta a bola na baliza certa do gol: entre duas lápides do cemitério dos pretos novos...quem sabe um dia vira seleção ?

Um comentário:

  1. Tanto ainda por ser feito neste país... E parece que ainda não aprendemos as lições do passado...

    ResponderExcluir