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sábado, 15 de outubro de 2011

GUME DA NOITE

Sai a noite e eu sei
que finalmente vais surgir;
novamente trazes no teu quadril
o ritmo que me assola
e nem a Lua me consola
quando danças este ventre impune
nos escombros de madrugadas exangues;
nada te resiste imune,
pois tu és o gume da noite
e trazes nas tuas mãos acesas
a essência do punhal,
o dever da rapina
evidente na salivação de te ver
escondida em ilusões que tu mesma calcinas.

Tudo pode nascer da tua suave evolução,
tradução do fogo inocente,
que só faz evidenciar a minha patética condição:
és adaga em carne quente,
semente de esquivas indolentes
em qualquer noite de verão.

Sai a noite e eu sei
que novamente hão de crescer
flamas no silêncio do teu beijo,
pois tens a boca certa para este impulso pagão,
que só pode ser ordem de algum Deus
muito bom de se crer...

Sai a noite faminta no teu clarão,
mas é impossível decompor a luz
que vem do teu espírito de grilhão;
dá-se a noite por vencida:
és tanto brilho para tão pouca escuridão;
também dou-te por perdida:
és mulher demais para tão pobre adoração...

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